Novas Oportunidades e Mudança de Paradigma - Por Arlindo Rodrigues - Formador de CLC

Nas sociedades democráticas, a determinação dos parâmetros que devem balizar a educação, instrução e a formação dos indivíduos cabe à própria sociedade. No cumprimento dessa determinação colectiva, o Sistema Educativo sustentado pelo Estado, no meu entendimento, tem procurado orientar-se para a formação integral dos cidadãos, onde a educação, instrução e formação se têm orientado por três vectores primordiais: na realização pessoal, na consolidação da consciência cívica, e na transmissão dos valores da herança cultural da sociedade. É neste conjunto de finalidades, que entroncam os grandes objectivos da iniciativa das novas oportunidades, representando também um significativo esforço de qualificação da população em todos os níveis de ensino, no sentido de recuperar o atraso que nos distancia dos países mais desenvolvidos. No entanto, a realidade actual ainda nos afasta da posição da maior parte dos países da OCDE. Portugal continua a apresentar baixos níveis de escolarização, que atingem as gerações mais velhas, mas não são menos preocupantes os indicadores relativos às gerações jovens.


Esta realidade, obriga a uma alteração de paradigma, uma vez que se torna necessário proceder a alguns reajustamentos de modelos, de processos e de conceitos que, mais do que nunca, é imperioso reforçar a ideia de identidade da comunidade através da (re) descoberta reflectida das suas próprias dinâmicas, do desenvolvimento da sua interacção com outras realidades e da promoção do papel da escola no tecido social. Com a implementação das novas oportunidades, entre outros aspectos, procura-se também dar resposta a estas dimensões, tão prementes nas sociedades modernas.


Uma das formas mais frutuosas de encarar as relações da escola com a sociedade é dada pelo modelo sistémico. Enquanto organização, a escola, embora gozando de certa autonomia, não pode ser desligada de um mundo mais vasto chamado sociedade que lhe determina os respectivos fins e condiciona os seus processos de mudança.


Assim, entre outras perspectivas, nesta reflexão refiro-me a quatro grandes paradigmas educativos que percorrem as actuais escolas, nas sociedades democráticas: paradigma industrial; paradigma humanista; paradigma da dialéctica social e o paradigma da simbiosinérgico. Os paradigmas atrás referidos são, quanto a mim, um bom ponto de partida para a reflexão e a abordagem desta problemática.


Por não ser oportuno aprofundar esta reflexão, refiro-me ao paradigma humanista, que se centra naquilo que afirma ser o desenvolvimento da pessoa humana nas suas múltiplas dimensões. Assume uma perspectiva crítica da subordinação das escolas à economia, recusando que as mesmas possam ter como finalidade a mera transmissão de conhecimentos, medidos pela sua quantidade e eficácia prática, em detrimento da construção dos saberes integrados que possibilitem aos aprendentes uma compreensão mais ampla do mundo e de si próprios. Diversas correntes pedagógicas têm defendido estas ideias, desde pedagogos ligados a movimentos políticos e filosóficos como o Anarquismo ou Personalismo, a movimentos mais pedagógicos como o da Escola Nova ou a Educação Progressiva, ou ainda teóricos como C. Rogers. Todos comungam dum mesmo pressuposto: as grandes mudanças da sociedade começam pela mudança dos próprios indivíduos. Actuar no âmbito da educação, instrução e formação, é a longo prazo contribuir para modificar a sociedade numa determinada direcção.


Destaco o paradigma simbiosinérgico, o mais recente de todos os que foram citados; afirma-se claramente como uma resposta aos cenários mais catastrofistas sobre a degradação do meio ambiente e a necessidade de alterar o actual estado de coisas (veja-se grandes catástrofes naturais que acontecem em várias áreas do Globo). A educação deve, segundo os seus teóricos, criar uma nova visão social, ecológica e espiritual da sociedade, tendo em vista a constituição de comunidades de vida e de trabalho diferentes das actuais. Numa perspectiva pedagógica, privilegia-se uma acção que leve os educandos/formandos a terem uma visão integrada da sua relação com o cosmos, abolindo as dicotomias sujeito-objecto, cultivando um conjunto de saberes que despertem o indivíduo para estas dimensões: um saber-fazer que tenha em conta, não apenas o resultado das acções, mas também as suas consequências; um saber pensar/reflectir que ultrapasse os aspectos meramente lógicos, para se situar numa análise crítica da sociedade e dos seus modelos de desenvolvimento; um saber viver, que forme os indivíduos para uma convivialidade mais responsável e solidária; um saber partilhar tendo em conta a dimensão da comunidade como um todo; um saber dizer, manifestação de uma nova comunicação que urge reinventar.


Posto isto, o ensino implica sempre uma escolha de um dado paradigma, e qualquer opção implica sempre a escolha de um determinado modelo de sociedade. Trata-se de uma opção, que deve ser baseada num conhecimento amplo e actualizado das práticas sociais.


É nesta perspectiva que, a iniciativa das novas oportunidades, pode contribuir para responder a este novo paradigma, uma vez que, os referenciais das várias áreas científicas abordadas, exigem que a descrição de competências deva partir da análise de situações, da acção e, consequentemente, disso demonstram conhecimentos.


Em contexto formativo, também no contexto das novas oportunidades, é essencial observar, avaliar, validar e certificar as competências fundamentais que demonstrem a autonomia das pessoas, que podem ser classificadas como o saber identificar, avaliar e valorizar as suas possibilidades, direitos, limites e necessidades; saber formar e conduzir projectos e desenvolver estratégias, individualmente ou em grupo; saber analisar situações, relações e campos de força de forma sistémica; saber cooperar, agir em sinergia, participar numa actividade colectiva e partilhar liderança; saber construir e estimular organizações e sistemas de acção colectiva do tipo democrático; saber gerir e superar conflitos; saber conviver com regras, servir-se delas e elaborá-las; saber construir normas negociadas de convivência que superem diferenças culturais, entre outras.


Neste contexto, o papel do formador, é procurar identificar e apoiar uma reflexão, realizar avaliação e auto-avaliação formativas, com possibilidade de certificação, orientada claramente para o reconhecimento da demonstração de evidências de determinadas competências.


É também nesta perspectiva, que vejo este blogue como um bom veículo para estimular a crítica construtiva do quotidiano formativo, aprofundar a comunicação entre a escola e a comunidade, ajudando a clarificar dia-a-dia o sentido da Educação e da Vida. Por isso, aqui estou, com esta reflexão simples, contribuindo para a promoção do debate em torno das questões da educação e da formação, bem como das mudanças verificadas na sociedade, onde cada um, deve procurar ser actor deste processo e não mero espectador passivo. Se a iniciativa das novas oportunidades, tiver o mérito de concorrer para essa situação, ganha foros de grande relevância na sociedade portuguesa.



Arlindo Rodrigues - Formador de CLC

Abertura Solene da Exposição: "Arte ao Longo da Vida" (2010)











































Fotos gentilmente cedidas pela formadora Pilar Castello (LC), pelo adulto Carlos Pereira e pela adulta Filomena Pereira.

ARTE AO LONGO DA VIDA - Educação e Formação de Adultos (2010)

O vídeo foi gentilmente cedido Sr. Carlos Lopes Pereira

Corrida 'Novas Oportunidades' em Belém 2010


Corrida 'Novas Oportunidades' em Belém 2010


Corrida 'Novas Oportunidades' em Belém 2010


Corrida 'Novas Oportunidades' em Belém 2010


Corrida 'Novas Oportunidades' em Belém 2010


Uma equipa entusiasmada

Corrida 'Novas Oportunidades' em Belém 2010


Boa disposição na hora da inscrição...

Corrida "Novas Oportunidades" Belém 2010


Almoço convívio antes das inscrições na corrida