O Processo RVCC - Por Adelaide Abreu - Formadora de CLC

“Tenho de afirmar que foi um desafio e que algumas vezes me senti incapaz ou confusa. No entanto uma chamada telefónica para a minha coordenadora de RVCC ou um e-mail para qualquer das minhas formadoras, tinha em mim o efeito de um antipirético numa pessoa com febre. Desapareciam as dúvidas e lá continuava ainda mais entusiasmo.


Consultei muitas vezes a internet, li revistas, consultei livros sobre os assuntos sobre os quais eu me estava a propor falar, recuperei memórias há muito esquecidas.


Li e reli vezes sem conta esta minha autobiografia, aumentando-a de cada vez que lia, pois as memórias vinham a cada leitura, e estou certa de que se voltar a fazê-la nuns anos próximos muito mais escreverei sobre a minha autobiografia reflexiva de aprendizagem. “ (Formanda de nível Secundário)




Este depoimento, a par de tantos outros que foram marcando o meu percurso como formadora de CLC, vão dando sentido à minha acção diária como à de toda a equipa de profissionais e formadores que se empenham com entusiasmo, afecto e profissionalismo em despertarem os formandos para o valor e significado das suas vivências experienciais, tão diversas e por isso mesmo tão enriquecedoras.



É gratificante acompanhar o percurso feito pelo adulto desde que entra no processo até ao seu culminar na sessão formal de júri onde obtém o seu certificado de competências. É muito significativo o número de pessoas que iniciam o processo com muitas dúvidas e falta de confiança acerca da sua capacidade para o fazer, considerando que não têm conhecimentos nem experiências que possam validar as competências-chave contempladas num referencial muito abrangente. São pessoas que foram excluídas de um percurso de formação inicial adequado e que agora pretendem que lhes seja dada a oportunidade de recuperar tempo perdido mas ganho em termos experienciais.


A equipa técnica (profissional e formadores) que acompanha o adulto tem um papel fundamental na (re)construção contínua junto deste de processos de auto-estima, de motivação e de auto-reflexão. Ao sentir, pensar, reflectir e actuar, o adulto é o centro e agente do seu processo de auto-descoberta, através de uma metodologia de narrativa autobiográfica que implica uma constante introspecção crítica e analítica, o que confere a este processo uma dimensão estruturante e humanista.


Gradualmente, os adultos tomam consciência que o que foram aprendendo ao longo da sua vida, em contextos informais e não-formais de aprendizagem, nas suas relações pessoais, sociais e profissionais, é valorizado, reconhecido e certificado num quadro de competências-chave para uma efectiva integração na sociedade, enquanto cidadãos de pleno direito, num mercado de trabalho cada vez mais exigente e instável.


O processo de reconhecimento de competências é complexo, difícil e exige, da parte da equipa técnica, a triangulação de informação através da conjugação de diversas fontes, instrumentos e coesão de práticas dentro da própria equipa. Constantemente, vão sendo repensadas dinâmicas de regulação do processo de modo a que a desocultação e reconhecimento de competências seja o mais eficaz possível, dentro de um padrão de qualidade.


Como em qualquer processo dinâmico e bilateral, há ganhos de ambos os lados. Da parte da equipa técnica, que trabalha directamente com os adultos, há um enriquecimento constante decorrente do percurso singular de cada adulto; da parte do adulto, é evidente, no final do processo, a motivação e interesse em continuar a valorizar-se e a aprender ao longo da vida. As capacidades de auto-reflexão e auto-avaliação são recursos essenciais à aquisição de novas competências e à gestão de desafios que possam surgir ao longo do seu percurso.


“Tenho de afirmar que foi um desafio”, diz a formanda.


Continua a ser um desafio, digo eu, enquanto formadora de RVCC.



Adelaide Abreu

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